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DISCURSO DO PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO KOUTAKU DO AMAZONAS NA ALE

Atualizado em: 04/11/2011 14:18

DISCURSO DO PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO KOUTAKU DO AMAZONAS, SR. VALDIR HICASHI SATO, NA SESSÃO ESPECIAL REALIZADA NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO AMAZONAS, NO DIA 25 DE OUTUBRO DE 2011, EM COMEMORAÇÃO AOS 80 ANOS DOS KOUTAKUSEIS NO AMAZONAS.

 

(Saudar membros da mesa)

NOBRES DEPUTADOS.

CARAS SENHORAS: SUMIKO IHARA, HISAKO TOGUCHI E TEREZA YAMAZAKI.

CAROS DESCENDENTES DOS KOUTAKUSEIS  E NIKKEYS, aqui presentes,

MEUS SENHORES E MINHAS SENHORAS

 

A 80 anos atrás, no dia 20 de junho de 1931, precisamente as 23:30 hs, chegava a primeira turma de Koutakuseis na Vila Amazônia. Assim, começava uma saga que escreveria uma das mais belas páginas da historia do Amazonas, quiçá do Brasil.

Em maio de 1926, o então governador do Amazonas, Ephigênio Sales, preocupado com a crise econômica gerada pela perda da hegemonia da borracha, oferece ao embaixador do Japão Shitita Tatsuke, 1 milhão de hectares em terras virgens,  para que os japoneses promovessem uma colonização agrícola. Um deputado parlamentar do Japão, Dr. Tsukasa Uetsuka, aceitou esse grande desafio. Convenceu jovens, na faixa etária dos 20 a 22 anos, a vir ajudar a desenvolver o Amazonas e aqui implantar uma colônia para abastecer o mundo. Era um projeto ambicioso e, sem sombra de dúvidas, enfrentariam extremas adversidades.  E tudo isso tornava o projeto um grande desafio. Mas os jovens eram destemidos, determinados e corajosos, alguns vindo até de linhagem dos antigos samurais, e se engajaram nessa empreitada. Tinham uma boa perspectiva de vida no Japão, pois eram de classe media e tinham acabado de concluir, o que no Brasil, seria o curso secundário, privilegio de poucos na década de 20. Mesmo assim, deixaram tudo, cruzaram o mundo e chegaram à Vila Amazônia, onde cursaram a Escola Superior  de Colonização por mais um ano e receberam um lote de terra para trabalhar. As dificuldades foram imensas. Algumas já esperadas, mas a grande maioria nunca imaginada. Como desbravadores se adaptaram ao clima úmido e quente. Se adaptaram a alimentação diferente, Trabalharam a grande floresta e sofreram muito, mas superaram desde o minúsculo mucuim, que muito os perturbou, até os carapanãs, as cobras e o sol escaldante. Conheceram, respeitaram e se adaptaram à cultura local, sem deixar morrer a sua cultura milenar. Enfrentaram os dissabores dos primeiros anos em que trabalharam incessantemente sem colher o fruto desse trabalho, já que a juta indiana não dava certo. Até que, em 1933 para 1934, Ryota Oyama consegue aclimatar a juta indiana ao solo amazônico, façanha única no mundo, e que seria a grande responsável pela sustentação econômica dos koutakuseis e do Amazonas. E um novo ânimo se alevanta. Passam os anos de 1935 e 36 na grande expectativa, pois nesses anos foram apenas colhidas as sementes.

Em1936, quando as esperanças de dias melhores se reacendem, o projeto sofre um grande golpe. A concessão de terras de um milhão de hectares não é aprovada no Senado e a colônia modelo do Andira é desativada. Os Koutakuseis deixam a colônia e se espalham por outras regiões. Tsukasa Uetsuka que preparava todo ano uma nova turma de koutakuseis no Japão e os enviava depois para a Vila Amazônia fecha a Escola KOUTAKU. A sétima e última turma, preparada em 1936 na Escola Koutaku, no Japão, ainda vem em 1937 para o Amazonas. Neste ano, começa a produção da juta Oyama. Depois de tanta luta, tanto trabalho, tantos sofrimentos e pesados investimentos, começa uma nova era para o Amazonas, para o Brasil, para os Koutakuseis e para os Amazônidas. Pois os Koutakuseis repassaram as técnicas do plantio da juta para os ribeirinhos e trabalhando juntos como num Kizuna, ou seja, juntos unidos como num laço, aumentam a produção da juta a cada ano. Quando os Koutakuseis começam a usufruir pela primeira vez do seu trabalho, eclode a Segunda Guerra Mundial. Os que estavam na sede do projeto em Vila Amazônia são presos e levados para Acará, no Estado do Para, onde foi instalado um campo de concentração. Os japoneses, que foram convidados a vir ao Amazonas, passam a ser perseguidos e taxados de espiões amarelos, não pelo povo parintinense que conhecia seu trabalho e seu caráter, mas por outros, que, por desconhecimento ou intenções nunca reveladas, passam a perseguir e tratar injustamente os japoneses. Como é o caso do Sr. Zennoshin Shoji, aqui presente, que foi preso e recebeu mais de 40 chicotadas. Os Koutakuseis com suas famílias largam tudo e se escondem em locais ermos, a maioria com os descendentes ainda crianças ou bebes. Sobrevivem como podem e esperam o término da guerra. Quando ela acaba, retornam para trabalhar na juta. E juntos Koutakuseis e ribeirinhos fazem a produção da juta crescer a cada ano e o Brasil chega a se tornar autossuficiente, economizando muitas divisas. Algumas pessoas, infelizmente, preferiram que essa história fosse esquecida. E quase conseguiram. Com a paciência e persistência que lhes é peculiar, os Koutakuseis conseguem se reerguer e educar seus descentes, seu sonho maior. Os bens materiais que perderam durante a guerra foram até esquecidos. Mas a honra, manchada pelo estigma de espiões amarelos, esse jamais foi esquecido. Para eles, a honra era um bem inestimável, cujo valor sobrepujava a própria vida. E eles nada puderam fazer para lavá-la, alem de continuar trabalhando honestamente e esperar que o futuro provasse sua inocência. E assim, a maioria, com exceção de três, que têm a benção de viver este momento, foram para a outra vida, ficando para nós, seus descendentes, essa missão. Mais que uma missão, um dever. Hoje, pela vontade de Deus, pela coragem do nobre deputado Tony Medeiros, parintinense conhecedor dessa história, que se uniu a nós num KIZUNA de amizade e pela sensibilidade e senso de justiça dos nobres deputados desta casa e do Exmo. Governador Omar Aziz  é corrigida essa grande injustiça. O reconhecimento do ciclo da juta, como um ciclo de desenvolvimento econômico do Amazonas, que está entrelaçada com a história dos koutakuseis, passará a ser ensinada no sistema estadual de ensino e, mais ainda, a honra dos koutakuseis é resgatada pelo pedido formal de desculpas aos briosos koutakuseis e descendentes, pelos excessos aos quais foram injustamente submetidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Caro amigo Tony Medeiros e nobres deputados nós descendentes dos Koutakuseis aqui representados pelas associações Koutaku do Amazonas, Associação Nipo-Brasileira de Parintins e Associação Koutaku do Pará, seremos eternamente gratos a vocês. Hoje poderemos dizer a cada um de nossos pais que já se foram:

A HONRA DE VOCÊS FOI LAVADA, NÓS SEUS DESCENDENTES, CUMPRIMOS COM O NOSSO DEVER. DESCANSEM EM PAZ!

OBRIGADO.     

 
 
 
Associação Amazon Koutakukai

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Produzido por: Wilson Dias da Rocha Neto